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2020, o ano que acabou antes de começar na economia

Por Vivaldo de Sousa |


Enquanto o governo federal está dividido, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ampliando seus passeis e o contato direto com seu eleitorado e o Ministério da Saúde defendendo o isolamento social, o quadro recessivo vai se consolidando na economia brasileira. Se o desemprego já estava elevado, com quase 12 milhões de pessoas, a situação tende a piorar nos próximos meses.


Assim como é difícil prever de quanto será a queda da economia em 2020, também está complicado estimar em quando ficará o desemprego. Caso o governo cumpra o calendário previsto, deve enviar nesta semana ao Congresso Nacional a proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2021 com o cenário macroeconômico com o qual trabalha para o terceiro ano da gestão Bolsonaro.


A equipe do Ministério da Economia já trabalha com uma queda do Produto Interno Bruto (PIB), mas não há consenso sobre o número final. Uma possibilidade é manter a previsão irrealista de uma estagnação, classificada por técnicos de crescimento zero. Na nova estimativa do mercando financeiro, divulgada semanalmente pelo Banco Central, a queda neste ano está estimada em 1,96%.


Mais pessimista, o Banco Mundial (Bird) projetou uma queda de 5% no PIB brasileiro neste ano, conforme o estudo “A economia nos tempos da Covid-19”. Se confirmada, será a maior retração em 58 anos,  levando em consideração a série histórica do Banco Central, iniciada em 1962. Na avaliação do Bird, a recuperação deve começar já em 2021, com crescimento de 1,5%, e continuar em 2022, com alta de 2,3%.


Em relação ao desemprego, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas IBRE-FGV) calcula que a taxa de desemprego do Brasil pode passar dos atuais 11,6% para 16,1% já no segundo trimestre. Isso significa que 5 milhões de pessoas podem entrar na fila do desemprego em apenas três meses, elevando de 12,3 milhões para 17 milhões o número de pessoas sem trabalho no Brasil.


No melhor dos cenários, a economia vai encolher neste ano, o número de desempregados subirá nos próximos meses e o total de pessoas mortas ainda aumentar nas próximas semanas. Se 1968 foi ano que não terminou, usando aqui uma expressão do jornalista Zuenir Ventura, há o risco que 2020 possa ser conhecido, pelo menos do ponto de vista recuperação econômica, como o ano que não existiu.


Mas as marcas deste ano que pode não existir já estão presentes no nosso cotidiano. E são marcas que vamos, todos, levar para sempre. Diferentemente do surto de gripe espanhola, que matou cerca de 50 mil pessoas apenas no Brasil no começo do século XX, hoje temos uma melhor estrutura hospitalar e um sistema de saúde integrado. O que falta é uma atuação integrada do governo federal com Estados e municípios.


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