Boato, informação e jornalismo
Atualizado: 15 de mar. de 2019
Por Alan Marques
Golden shower, jornalismo fraudulento e fake news são o pão francês no café da manhã do leitor brasileiro.
A quantidade e a qualidade de informação que chega para o leitor é tão grande que o caminho do comunicador é um desafio contínuo e com pouco controle sobre o produto final. Para apresentar a receita da massa de pão que alimenta o apetite dos brasileiros por informação, é necessário entender três termos muito usados no dia a dia do Jornalismo.
Fake news se apresenta como o termo mais simples para se explicar porque, se a informação é falsa, não é notícia[1]. Esse anglicismo tem como base o estelionato intelectual e se aproveita da hiperexcitação do leitor no ambiente continuo de informação, seja em redes sociais ou em aplicativos. Para combater a praga, o leitor sempre deve procurar outras fontes para se certificar sobre a veracidade e assim evitar compartilhar boatos e mentiras.
O jornalismo fraudulento está na classe mais perigosa porque, ao se travestir de reportagem verdadeira, entrega ao leitor mentiras e erros graves ou gravíssimos na apuração jornalística. O caso mais recente é o do jornalista Claas Relotius, do seminário alemão Der Spiegel, que inventava histórias e as publicava como se fossem notícias.
A publicação alemã, hoje, adverte seus leitores que as matérias de Relotius podem ser fictícias porque o repórter teria falsificado fatos, citações e reportagens. O crime fica ainda mais feio ao se saber que o jornalista alemão recolheu fundos para ajudar dois órfãos sírios, personagens de um artigo da Der Spiegel, e que ele ficou com o dinheiro da doação[2].
Exemplo de mau jornalismo no Brasil é o caso Escola Base, ocorrido em março de 1994, quando os donos da Escola de Educação Infantil Base, o motorista do transporte escolar e um casal de pais de alunos foram acusados por duas mães de abuso sexual de crianças.
A conduta precipitada da polícia em revelar o caso para a imprensa, sem ter colhido provas, e a veiculação de notícia de abuso no Jornal Nacional enterrou socialmente os envolvidos e a escola foi a falência. Em junho do mesmo ano, os acusados foram inocentados e o inquérito policial arquivado, mas já era tarde, os danos eram irreparáveis e os acusados viram suas reputações destruídas.
Por fim, o vídeo pornográfico (golden shower) publicado no Twitter pelo presidente Jair Bolsonaro é uma realidade na comunicação pública nunca antes experimentada. Com essa postagem em uma rede social, Bolsonaro desconsiderou toda a estrutura de comunicação do Palácio do Planalto. O presidente utiliza da prática desde os primeiros dias de governo ao ignorar a função do porta-voz da Presidência da República e o Diário Oficial como documento. O presidente recorre, sem pudor, às redes sociais para apresentar sua visão de Brasil, nomear e demitir ministros e comprar brigas virtuais e reais.
Em um primeiro momento, o pensamento comum é que Bolsonaro provoca anarquismo grosseiro na forma de comunicar as coisas públicas. Porém, ao analisarmos o espaço digital da fala do presidente no mesmo sentido de ciberespaço como Objeto[3], o presidente brasileiro usa de forma peculiar as redes sociais ao entendê-la como “objeto comum, dinâmico, construído, ou pelo menos alimentado, por todos os que a utilizam” (LÉVY, 1996).
Por fim, se o leitor não tiver capacidade crítica para separar o que é relevante do que é porcaria, vai ficar se alimentando por fake news, sendo enganado por jornalistas bandidos e pensando que golden shower é uma chuva dourada.
[1] A explicação do termo Fake News foi uma apropriação de conversa sobre o tema com Vivaldo de Sousa
[3] LÉVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo – SP: Editora 34, 1996
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