Por Vivaldo de Sousa |
Além de aumentar o número de desempregados no mercado formal e informal, a pandemia do novo coronavírus poderá levar o Brasil a registrar em 2020 a maior recessão desde 1948, quando o país era presidido pelo general Eurico Gaspar Dutra. As estimativas variam de uma queda de 4,7% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, estimada pelo Ministério da Economia, a uma retração de 8%m divulgada nesta segunda-feira (08) pelo Banco Mundial (Bird).
A queda da economia em 2020 não tem paralelo na história do país desde o fim do Estado Novo. Anualmente, se aproxima da retração de 4,3% de 1990, quando o governo de Fernando Collor de Mello confiscou parte da poupança e do saldo em conta corrente dos brasileiros. Antes de 1948 não havia medições do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), criado em maio de 1936, para a variação da atividade na economia. Considerando que o PIB teve um crescimento de 1,1% em 2019 e de 1,3% nos dois anos anteriores, após uma recessão acumulada de 7,2% em 2015 e 2016, uma queda de 8% neste ano poderá levar o PIB ao nível registrado no final de 2011.
Confirmada uma queda de 8%, o desempenho do PIB nos dois primeiros anos do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) terá uma queda acumulada próxima de 6%. Apenas para efeito de comparação, desempenho da economia nos dois primeiros anos dos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) foi um crescimento em torno de 6%. Vale ressaltar que nenhum deles enfrentou um cenário interno e externo tão desfavorável quanto o provocado pela pandemia do Covid-19 em todo o mundo.
As projeções do Banco Mundial indicam que o Brasil terá uma queda na atividade econômica superior à retração esperada para Argentina (7,3%), México (7,5%), África do Sul (7,1%), Estados Unidos e Japão (6,1%) e Rússia (6%). O desempenho esperado para o Brasil ficará pior que a retração média esperada para a economia global, de 5,2%. Deve ter um desempenho melhor apenas que os países da Zona do Euro, onde a previsão do Bird é uma queda de 9,1%. Entre as economias mais avançadas, como EUA e União Europeia, a queda média está estimada em 7%.
O Banco Mundial avalia que o impacto recessivo do coronavírus é maior nos países onde a pandemia foi mais intensa (maior número de casos) e também naqueles mais ligadas ao comércio internacional, turismo e dependentes de financiamento externo. Ainda segundo o Bird, os impactos econômicos também devem se manter parcialmente no longo prazo, não só por causa das elevadas incertezas, que travam os investimentos, mas também por fatores como a destruição de capital humano com o elevado desemprego e o massivo fechamento de empresas. Recuperar essas perdas será um trabalho de médio e longo prazo, que exigirá maior diálogo entre Executivo, Legislativo e Judiciário.
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