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A Síndrome das Coisas Brilhantes

Atualizado: 13 de fev. de 2019

Por Joyce Russi

Como o jornalismo pode deixar de ser guiado pela tecnologia mantendo o foco na audiência?

O jornalismo deve parar de buscar “coisas brilhantes e reluzentes” às custas de conceitos centrais como conteúdo, desenvolvimento de negócios e audiências. Essa foi uma das principais conclusões do primeiro Relatório do Projeto Inovação em Jornalismo divulgado na semana passada pelo Reuters Institute.

Baseado em uma mesa redonda realizada com 39 editores, CEOs, gerentes de produto, profissionais, especialistas acadêmicos e consultores de mídia digital de 17 países que atuam na vanguarda da inovação em jornalismo digital, o estudo levanta questões sobre o uso “exagerado” de inovações tecnológicas no jornalismo sem a devida contrapartida no rigor da informação. O Brasil não foi incluído na pesquisa.

Entre as reflexões propostas aos participantes, uma pergunta se destaca: Como o jornalismo pode deixar de ser guiado pela tecnologia para ser empoderado por ela, mantendo o foco na audiência?

Segundo a pesquisadora Julie Posetti, responsável pela pesquisa, alguns líderes digitais da indústria começam a despertar para as “consequências não intencionais” da inovação jornalística liderada pela tecnologia. Entre esses efeitos colaterais ela destaca “o assédio online direcionado a mulheres jornalistas, desinformação viral e riscos de segurança impostos a jornalistas e suas fontes por violações de privacidade envolvendo tecnologias digitais”.

A pesquisa também aponta para o risco do uso exagerado da tecnologia resultar não só em dependência, mas também no esquecimento dos principais objetivos do jornalismo, que deve ser a busca da veracidade dos fatos de forma clara e objetiva, tendo o interesse público sempre como princípio.

“A ‘Síndrome das Cosias Brilhantes’ mata a narrativa e corremos o risco de esquecer quem somos. Esse é o maior desafio”, destacou durante a realização do debate Kim Bui, diretora do Breaking News Audience and Innovation do Arizona Republic, dos Estados Unidos.

A boa notícia é que entre as conclusões do relatório está o fato de que a maioria das organizações ouvidas reconhece a necessidade de desacelerar na implementação indiscriminada de novas tecnologias e de pensar de forma mais estratégica. Contudo, o estudo reconhece também a dependência dos pequenos veículos nascidos digitais na inovação tecnológica.

Mas o ponto principal de reflexão do estudo é quanto ao conceito de inovação no jornalismo que, com certeza, extrapola questões relativas aos algoritmos e outras “coisas brilhantes”. Afinal, o uso dessas novas tecnologias, necessárias para ampliar o acesso das pessoas à informação de qualidade, deve ser feito de maneira estratégica, para que o cachorro continue a balançar o rabo e não contrário.

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