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Empresas precisam valorizar mais a vida

Atualizado: 3 de fev. de 2019

Por Vivaldo de Sousa

O rompimento da barragem da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), no Complexo Mina do Feijão, reforça a necessidade de uma política de fiscalização mais rigorosa por parte do setor público, principalmente dos governos estaduais e federal, mas também indica, com atraso, a necessidade de maior preocupação social e melhor gestão por parte das empresas. O bloqueio de recursos e multas, até agora de R$ 11 bilhões, não compensam os prejuízos nem trazem de volta as vidas perdidas. 

O número de vítimas, 60 mortos e 292 desaparecidos até a manhã desta segunda-feira, é um dos maiores registrados no Brasil. Embora não seja possível prever todas as crises pelos quais uma empresa pode passar, três anos após a tragédia da Mineradora Samarco, que arrasou povoados de Mariana (MG), após o rompimento da barragem de Bento Rodrigues, medidas para aumentar a segurança poderiam ter sido tomadas. Uma gestão mais eficiente deve dar à vida das pessoas mais peso que o lucro. 

Sócia da Samarco, a Vale, até pelo setor em que atua, sabe que não há risco zero em relação ao rompimento de uma barragem. Sem ser especialista na área, arrisco afirmar, por exemplo, que a mudança do local onde ficava o restaurante e a área administrativa da empresa em Brumadinho, arrasadas pelo mar de lama resultante do rompimento de uma das três barragens no local, poderia ter salvo centenas de vidas. Mesmo para uma barragem considerada de menor risco, essa seria uma medida simples. 

Desde que os primeiros estudos sobre os projetos de barragens e a performance de suas estruturas começaram a ser estudados em 1850, pelo engenheiro civil William John Macquom Rankine, da Universidade de Glasgow (Reino Unido), as técnicas evoluíram. Embora com custos de implantação e de operação superiores aos das barragens de rejeitos convencionais, hoje há técnicas que reduzem os riscos para as pessoas que trabalham em locais de mineração e com menor impacto ambiental.

As investigações sobre o que provocou esse novo acidente e o que poderia ter sido feito para evitá-lo ou para aumentar a segurança da barragem de Brumadinho e de outras e muita coisa ainda será escrita sobre esse acidente. Desta vez, mais do que em 2015, a Vale parece ter procurado cumprir todos os procedimentos recomendados em crises dessa dimensão. Imediatamente após a tragédia, a empresa divulgou uma nota, colocou o presidente para falar, lamentou a perda de vidas e adotou medidas para manter informados e apoiar os familiares das vítimas e das pessoas desaparecidas.

Além disso, como recomendam os manuais de gestão de crises, o presidente da Vale deslocou-se para o local da tragédia. Depois, suspendeu o pagamento de bônus para executivos e publicou nota na imprensa sobre o rompimento. Os governos federal e estadual também se fizeram presentes ao local, com o deslocamento do presidente da República e do governador, além de criarem um comitê de crise. Apesar de corretas, essas medidas são insuficientes para evitar o risco de novas tragédias. 

Concluídos os trabalhos de busca dos desaparecidos e de investigação das causas do rompimento da barreira, será preciso avançar na adoção de medidas preventivas. Medidas que tragam mais segurança para os trabalhadores e que reduzam o impacto da mineração sobre o meio ambiente. Os investimentos nessas duas linhas de atuação contribuirão para o desenvolvimento de empresas mais sustentáveis.


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